Gestão fiscal

Além dos números: transformando tax com leveza, bom humor e automação

Pesquisadores da Universidade de Essex, em Colchester, Inglaterra, questionaram mais de 500 pessoas em cinco experimentos diferentes sobre as carreiras e hobbies que consideravam mais “entediantes” — e quais características associavam às pessoas que exerciam essas profissões. O estudo foi publicado no Personality and Social Psychology Bulletin. [1]

A área financeira foi esmagadoramente considerada como a mais entediante do mundo, com posições associadas a finanças ocupando quatro dos cinco primeiros lugares na lista de “mais entediantes”. Entre as ocupações, os participantes dessa pesquisa atribuíram as classificações mais altas (ou seja, mais características de profissões estereotipadamente chatas) aos analistas de dados, contadores e aqueles envolvidos em tributação.

Aqui vale incluir mais um dado extraído de outro estudo muito interessante. Uma pesquisa global, conduzida pela OnePoll e encomendada pela Automation Anywhere, uma líder no campo da Automação Robótica de Processos (RPA), envolveu mais de 10 mil profissionais administrativos de 11 países diferentes, incluindo Alemanha, Austrália, Brasil, Estados Unidos, França, Índia, Japão e Reino Unido, dentre outros.

Os resultados revelaram que esses trabalhadores gastam, em média, mais de três horas diárias em atividades manuais e repetitivas no computador, atividades essas que não são suas principais responsabilidades e que são propensas a erros humanos.

Quase metade dos entrevistados expressou que considera a administração digital tediosa (47%) e que sente que isso subutiliza suas habilidades (48%). Adicionalmente, a maioria relatou que essas tarefas interferem na execução de seus trabalhos principais (com 51% dos participantes em geral e alcançando 80% na Índia) e diminuem a produtividade geral (64%).

Agora, façamos um contraponto com o universo de tributação aqui no Brasil. Somamos a esses estudos os nossos desafios diários do sistema tributário. Será que é possível completar um dia de trabalho com leveza e bom humor? Claro não é possível mudar o que fazemos, mas seria possível mudar o como fazemos?

Primeiro ponto: “Se você trabalha em um escritório, provavelmente sua produtividade e sua felicidade são substancialmente prejudicadas por precisar ser responsável por tarefas administrativas realizadas manualmente no computador que poderiam facilmente ser automatizadas e absorvidas no dia a dia” afirma Shelly Kramer, analista principal da Futurum Research.

Outro ponto relevante é romper com o paradigma de que é necessário ser rígido para ser reconhecido como competente. É preciso estar exausto ao final do dia para ser conceituado como produtivo?

Após tantos anos atuando como professora e acompanhando o desenvolvimento escolar de meus filhos, fico satisfeita em perceber que ambientes leves e divertidos propiciam um aprendizado mais efetivo. Da mesma forma, acredito firmemente que o bom humor e a leveza estimulam a criatividade tão necessária na área de tax para gerar profissionais estratégicos.

Álvaro Lages, comunicador formado em publicidade, que atua como educador, músico, palhaço e improvisador, foi muito generoso na minha pesquisa para elaborar esse artigo. Ele trabalha há mais de 20 anos como Maestro de Ambientes em treinamentos corporativos com o intuito de gerar leveza através do brincar. A frase mais marcante (para mim) desse profissional resume muito bem esse contraponto “O divertido não é o contrário de sério. Divertido é o contrário de chato”.

O melhor exemplo dessa afirmação seria o ex-Primeiro-Ministro do Reino Unido Winston Churchill (1874–1965), um dos líderes mais respeitados da história. Churchill era conhecido por rir de si próprio e por recorrer a brincadeiras e tiradas em seu dia a dia, mesmo comandando o país em uma época terrivelmente adversa.

Claro que não sugiro aqui nenhuma generalização. Há situações sóbrias que devem ser tratadas como tal. No entanto, há espaço para a leveza, para o bom humor e para a gentileza.

E se faz sentido para você, por onde começar?

Foto de Jopwell/Pexels

Sempre que for possível, adotar uma força de trabalho digital e automatizar as tarefas repetitivas da área de tax. Segundo a pesquisa citada acima, os colaboradores poderiam recuperar um quarto do seu tempo de trabalho anual, equivalente a 4,5 meses, permitindo-lhes concentrar-se em tarefas mais significativas. Isso resultaria em um aumento da produtividade e valorização do negócio em geral e menos aborrecimento.

No que não for possível otimizar, vale uma mudança de olhar.

Pesquisadores de universidades na Alemanha, Suíça e Estados Unidos investigaram se características ligadas ao bom humor, como a habilidade de brincar, poderiam ser estimuladas e desenvolvidas por qualquer profissional.  O psicólogo da universidade alemã Martin Luther University Halle-Wittenberg, René Proyer, um dos autores do estudo, afirma que estratégias simples podem deixar as pessoas mais satisfeitas em seu ambiente de vida e de trabalho.

O que torna este estudo relevante é a conclusão de que não se trata de uma qualidade inerente à pessoa, que está gravada no seu DNA, mas sim de uma capacidade que pode ser desenvolvida. Qualquer profissional pode incluir bom humor e leveza no seu dia a dia e deixar a rotina menos pesarosa.

O senso de humor é uma atitude; não depende dos acontecimentos, mas da maneira como encaramos o que acontece.

Busque algo que faça sentido para você, que você goste e use no seu dia. A música preferida no carro antes de começar o dia, um chocolate ou uma fruta que você gosta antes “daquela” reunião, respire com calma e profundidade antes de encarar “aquela” mensagem. Escolha uma série de comédia que agrade a sua sensibilidade, ou procure na internet aquele desenho animado que fez parte da sua infância para relaxar no final do dia.

E seja gentil com você mesmo, especialmente com suas limitações, e (se der) até ria delas. Um senso de humor desenvolvido nos ajuda a lidar melhor com as adversidades e desfrutar de relacionamentos mais gratificantes que são tão relevantes para a nossa área de tax.

Fé, café e tax.


[1] van Tilburg, W. A. P., Igou, E. R., & Panjwani, M. (2023). Boring People: Stereotype Characteristics, Interpersonal Attributions, and Social Reactions. Personality and Social Psychology Bulletin, 49(9), 1329–1343. https://doi.org/10.1177/01461672221079104

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